Friday, June 29, 2007

Festas do Povo de Campo Maior















Falar das Festas de Campo Maior é falar da alma de um povo.
Essa alma que, em qualquer Setembro, consegue superar todas as vicissitudes e contrariedades da árdua vida quotidiana, e transforma as suas brancas ruas num verdadeiro jardim. As cores vivas e alegres em contraste com a alvura do tradicional casario alentejano, nascem da noite para o dia, como se de milagre se tratasse.
São as Festas das Flores de Papel, dir-se-á, na mais simplista e linear forma de descrever, mas, quem as já viu, certamente não encontrará palavras para tal. Tentar definir estas Festas é tentar explicar o inexplicável, dada a sua transcendência.
Tamanha beleza só encontra paralelo na imensa carga emocional e na incomensurável paixão que este Povo consegue colocar em cada pedaço de papel que transforma.
São umas Festas feitas de paixão. Não basta vê-las, é preciso senti-las, tentar compreender o que está para além da vista. Esse esforço de tentar atingir o inalcançável leva-nos, até, a sentir inveja do próprio papel pois só ele saberá - fruto da intimidade e cumplicidade mantida com as hábeis mãos que carinhosamente o acariciaram e transformaram - o verdadeiro sentimento destas laboriosas gentes.
Esse momento mágico é conhecido como "enramação". É o culminar de milhares e milhares de horas de trabalho empregues - de uma forma voluntariosa - com o único objectivo de saciar o desejo do belo. A satisfação de oferecer a sua arte ao mundo é suficiente para quem apenas importam valores como a amizade e a fraternidade.
Durante uma semana, em Campo Maior, numa verdadeira exaltação do belo, as Festas do Povo são o pretexto para que toda a gente dê largas à sua alegria. Canta-se e dança-se, ao ritmo das "saias de Campo Maior", pelas noites dentro, até que o corpo aguente e a voz resista.
No final, a crueldade do efémero tudo leva, como que arrancando um pouco da alma deste povo. Este povo que, paciente e abnegadamente, espera pelo momento de, novamente, erguer tamanha e incomparável beleza, cumprindo uma tradição que não pode acabar.

Estas Festas são uma autêntica e maravilhosa dádiva dos Campomaiorenses ao mundo. Visitar as Festas do Povo é rumar ao templo do belo mas, não basta ver, é preciso sentir!
As últimas Festas do Povo tiveram lugar em 2004, e as próximas, se tudo se concretizar como previsto, terão lugar em 2008.

Se nunca visitaram Campo Maior, convido-vos a visitarem esta acolhedora
vila alentejana, porque serão certamente muito bem recebidos pelos seus habitantes, e terão oportunidade de conhecer uma das mais belas festas de Portugal!

Wednesday, June 20, 2007

Não Basta
















Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.

É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;

E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse;
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.



Alberto Caeiro